Gradualmente, o formoso universo o foi abandonando; uma pertinaz neblina lhe apagou as linhas da mão, a noite se despovoou de estrelas, a terra era insegura debaixo de seus pés. Tudo se afastava e confundia. Quando soube que estava ficando cego, gritou; o pudor estóico ainda não tinha sida inventado e Heitor podia fugir sem diminuir-se. Não verei mais (sentiu) nem o céu cehio de pavor mitológico, nem este rosto que os anos transformarão. Dias e noites passaram sobre esse desespero de sua carne, mas uma manhã despertou, olhou (já sem assombro) as apagadas coisas que o rodeavam e inexplicavelmente sentiu, como quem reconhece uma música ou uma voz, que já lhe tinha acontecido tudo isso e que o tinha encarado com temor, mas também com júbilo, esperança e curiosidade.
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