15.9.11

AMADO, Jorge. O país do carnaval

- O caso das nossas gerações é o mesmo que o da literatura de antes e de depois da Guerra... Uma literatura de frases: a outra, literatura de idéias.

- Não é assim. Mas, mesmo que fosse, eu ficaria com a literatura de antes da Guerra. Eu, quando leio um artigo, não quero saber se o seu autor tem ou não boas idéias, se é ou não útil. O que eu quero saber é se ele é ou não escritor, se escreve bem ou mal. Mas a verdade é que a literatura anatoliana tinha também idéias. Dava soluções. Mandava que se duvidasse sempre. É ou não uma solução? Colocava a Beleza acima de todas as coisas. Vocês aceitam Deus porque Deus é útil. Nós o negávamos porque achávamos que ele não satisfazia nosso ideal estético.

- Vocês eram terrivelmente egoístas. Ególatras, às vezes.

- E vocês praticam o egoísmo na sua forma mais torpe: o humanitarismo. Nós queríamos a aristocracia do talento, do espírito. Vocês hoje pleiteiam a aristocracia da força. Vocês fazem com que a inteligência abra falência... Só a cultura fica valendo alguma coisa. Porque só a cultura é útil.

- Mas vocês foram fracassados.

- Sim, porque toda vitória na vida é um fracasso na Arte...

- Já passou a época dos paradoxos, Ticiano.

- É verdade. E chegou a das citações...

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