20.9.11

REBELO, Marques. A estrela sobe

O céu estava de um azul muito escuro, estrelado. Nunca lhe pareceu tão imenso, tão infinito. Que haveria para além das estrelas? Um arrepio percorreu-lhe o corpo. O coração bateu-lhe com mais intensidade – tinha medo da morte, do fatal aniquilamento, da cova fria. E as estrelas brilhavam. E a Via Láctea era um caminho branco no céu. Pelo branco caminho é que as almas trilhavam. Pelo branco caminho, um dia, sua alma trilharia... O medo voltou. Mas voltou sem sobressaltá-la. Nem era mais medo, mas uma comoção mansa, serena, duma serenidade de canto religioso, de alma que encontra o infinito. Morrer? Sim, morreria. Ficaria dura, muda, fria, imóvel, para sempre fria e imóvel. Os seus pés, as suas mãos, os seus olhos, o seu corpo, um dia, desapareceriam consumidos pela terra inexorável. Um dia, ninguém mais se lembraria dela. Ninguém!... Sentiu qualquer coisa de terrível e injusto – ninguém!... A vida dos homens passa como uma sombra.

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