9.11.11

ROSA, Guimarães. Carta a Harriet de Onís

Deve ter notado que, em meus livros, eu faço, ou procuro fazer isto, permanentemente, constantemente com o português: chocar, “estranhar” o leitor, não deixar que ele repouse na bengala dos lugares-comuns, das expressões domesticadas e acostumadas; obrigá-lo a sentir a frase meio exótica, uma “novidade” nas palavras, na sintaxe. Pode parecer crazy de minha parte, mas quero que o leitor tenha de enfrentar um pouco o texto, como a um animal bravo e vivo. (2 de maio de 1959)

Sei que o absoluto horror ao lugar comum, à frase feita, ao geral e amorfamente usado querem-se como características do Sagarana. A sra terá notado que, no livro todo, raríssimas serão as fórmulas usuais. A meu ver, o texto literário precisa de ter gosto, sabor próprio - como na boa poesia. O leitor deve receber sempre uma pequena sensação de surpresa, isto é, de vida. (11 de fevereiro de 1964)

Não procuro uma linguagem transparente. Ao contrário, o leitor tem de ser chocado, despertado de sua inércia mental, da preguiça e dos hábitos. Tem de tomar consciência viva do escrito, a todo momento. Tem quase de aprender novas maneiras de sentir e de pensar. Não o disciplinado - mas a força elementar, selvagem. Não a clareza - mas a poesia, a obscuridade do mistério, que é o mundo. (4 de novembro de 1964)


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