Escrever é uma camisa de força. Quero dizer, várias. A
primeira camisa de força é a da lógica, com as suas formas de pensamento em
geral, dedução, indução, ilação, associação, hipótese, inferência, isso inclui
uma série de raciocínios que encadeiam os acontecimentos, as coisas, os
elementos da natureza, o ser humano, o acaso, e deve haver coerência e
fundamento; depois vem a camisa de força da sintaxe, essa parte da gramática
que ensina a unir as palavras para criar orações, períodos, parágrafos, em
síntese, o texto em si, regrais estruturais referentes à regência, flexão,
tropos, et cetera, ou seja, uma
compilação danada; depois tem a camisa de força do vocabulário, não vou
envolver Flaubert nisso, mas existe palavra certa, o que não existe é sinônimo.
Por exemplo: a palavra “estulto”. Qual é o sinônimo? Insensato? Parvo? Néscio?
Imbecil? Idiota? Tolo? Zote? Lorpa? Não. Como disse aquele famoso filósofo
egípcio de Alexandria, cada palavra tem a sua própria transcendência, cada
coisa é uma coisa e cada caso é um caso. E há ainda a camisa de força do ritmo,
não me refiro ao fenômeno musical, nem físico, nem fisiológico, mas ao fenômeno
rítmico literário, a cesura, a métrica, a cadência, que não existem apenas na
poesia, mas também na prosa, que, conquanto não tenha hexâmetros, decâmetros ou
hemistíquios, possui a sua própria cadência. E, ao contrário do que se pensa, o
texto ensaístico tem um ritmo mais complexo do que o ficcional. Aliás, eu não
lia mais ficção. Parei com isso na adolescência. Li tanto que quase tive uma
congestão. E tem mais: hoje em dia existe macete tecnológico para corrigir
fotografia, filme, música, tudo, menos textos literários desafinados.
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