21.3.12

WOOLF, Virginia. O quarto de Jacob

Pensemos em cartas – em como chegam na hora do café da manhã e à noite, com seus selos amarelos e verdes, imortalizados pelo carimbo postal – pois ver o nosso próprio envelope na mesa de outra pessoa é entender com que rapidez nossos textos nos deixam e se tornam alheios. O poder da mente de abandonar o corpo é fato óbvio, e talvez tenhamos medo, ou ódio, ou desejemos aniquilar esse fantasma de nós mesmos jazendo ali na mesa. Ainda assim, há cartas que simplesmente dizem sobre tal jantar às sete; outras encomendam carvão; ou marcam encontros. A mão que as escreveu é quase imperceptível – quanto mais a voz ou a expressão do olhar. Ah, mas quando o carteiro bate e a carta chega, o milagre parece sempre repetido – a linguagem que tanta falar. Veneráveis são as cartas, infinitamente audaciosas, desamparadas, e perdidas.

No comments: