WOOLF, Virginia. O quarto de Jacob
E ainda assim, ainda assim... quando vamos ao jantar, quando apertamos pontas de dedos e esperamos nos encontrar, logo, de novo, em algum lugar, uma dúvida se insinua; é essa a maneira de gastarmos nossos dias? Os raros, os limitados, tão depressa perdidos dias – tomando chá? jantando fora? E os bilhetes se acumulam. E os telefones tocam. Onde quer que estejamos, fios e tubos nos rodeiam para levarem nossas vozes, que tentam penetrar antes que o último cartão seja mandado e os dias se acabem. “Tentam penetrar”, porque quando erguemos a taça, e apertamos a mão, e expressamos tal desejo, alguma coisa sussurra: isso é tudo? Jamais poderei saber, partilhar, ter certeza? Estarei condenada todos os meus dias a escrever cartas, a enviar vozes que caem sobre a mesa do chá, fenecem nos corredores, marcando encontros para jantar, enquanto a vida vai se encolhendo? Ainda assim, porém, as cartas são veneráveis; e o telefone necessário, pois a jornada é solitária e, se estamos vinculados por bilhetes e telefonemas, andamos acompanhados – quem sabe? –, talvez possamos conversar no caminho.
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